O traumatismo crânio-encefálico é uma das principais causas de morte no adulto jovem, sendo que somente nos Estados Unidos, aproximadamente quinhentas mil pessoas sofrem este tipo de traumatismo por ano. Cerca de 10% desses doentes morrem antes de chegar ao hospital. Dos traumatismos crânio-encefálicos que recebem cuidados médicos, 80% podem ser classificados como leves, 10% como moderados e 10% como graves. E a cada ano, também nos Estados Unidos, mais de cem mil doentes vítimas desse tipo de trauma sofrem graus variados de invalidez. Portanto, mesmo uma pequena redução na mortalidade e da incapacidade resultantes do trauma crânio-encefálico teria um impacto importante na saúde pública.
A maioria dos acidentes fatais teria uma melhor evolução se tratada devidamente nos primeiros minutos após o acidente, principalmente quanto à assistência respiratória, ao controle imediato de hemorragias e posicionamento e transporte. E os pacientes que sobrevivem e que chegam ao hospital poderiam sofrer menos seqüelas, caso fossem tratados corretamente, de acordo com o grau do traumatismo crânio-encefálico.
Devido à grande importância socio-econômica da invalidez pós-trauma, é urgente a necessidade de se estabelecer mais dados epidemiológicos em relação ao controle e aos resultados do traumatismo crânio-encefálico em todos os seus graus (leves, moderados, e graves).
Com este objetivo, um grupo de pesquisadores ingleses (do Department of Neurosurgery, University Glasgow and Department of Community Health Sciences, University of Edinburg), liderados pela Dra. Sharon Thornhill, conduziram um estudo que tentava determinar a freqüência de invalidez em jovens e adultos, admitidos em hospitais da Inglaterra com traumatismo crânio-encefálico, e estimava a taxa de incidência de invalidez após um ano do trauma.
O Estudo
Entre fevereiro de 1995 e fevereiro de 1996, os pesquisadores enviaram representantes aos hospitais de urgência de Glasgow, a fim de identificar pacientes jovens (acima de 14 anos) e adultos, admitidos com traumatismo crânio-encefálico. Estes pacientes tinham o seu grau de gravidade avaliado pela escala de coma Glasgow (teste que avalia o estado de consciência das pessoas, utilizada em muitos países), que divide os pacientes de acordo com a pontuação obtida em resposta a estímulos, com a abertura dos olhos, com a resposta verbal e com a resposta motora. O número máximo da escala de Glasgow é quinze e significa que o paciente está consciente, e a menor pontuação é três, e significa que o paciente está em coma.
Os pacientes selecionados foram então classificados como portadores de trauma leve (Glasgow 13-15), trauma moderado (Glasgow 9-12) e trauma grave (Glasgow 3-8). Os pacientes que obtiveram alta hospitalar foram reavaliados pelos pesquisadores três e seis meses depois do acidente. Os pacientes ou, na impossibilidade destes, seus familiares foram submetidos a um questionário um ano após o trauma, onde se requeria informações complementares à entrevista pessoal prévia e visava avaliar a presença de seqüelas e invalidez nesses pacientes.
Resultados e Conclusões
Dos casos acompanhados de traumatismo crânio-encefálico, mais da metade era composta de homens com 40 anos de idade ou menos, e a grande maioria foi classificada como portadora de trauma leve. Quanto aos pacientes restantes, cerca de metade foi classificada como portadora de trauma moderado e a outra metade como portadora de trauma grave. As causas mais comuns foram quedas de grandes alturas, assaltos e acidentes automobilísticos, respectivamente. Em mais de 50% dos casos foi constatada associação com álcool, e cerca de um quarto dos pacientes já havia sido tratado previamente para esse tipo de trauma. A maioria foi liberada do hospital com 48 horas.
Após um ano, os pesquisadores notaram que o trauma grave estava mais associado com taxas de mortalidade ou vida vegetativa, do que com taxas de boa recuperação. De maneira contraditória, incapacidade tardia não foi associada a traumas graves, mas aconteceu em cerca da metade dos pacientes com trauma leve e moderado. A maioria dos sobreviventes com trauma grave é inválida, e cerca de metade dos pacientes com trauma leve e metade dos pacientes com trauma moderado são igualmente inválidos. A taxa de dependência de cuidados aconteceu em aproximadamente 45% dos sobreviventes de traumas graves, e de 30% nos casos de traumas moderados e de 28% nos de traumas leves.
Entre os pacientes com invalidez, menos da metade procurou o hospital. Apenas um quarto dos pacientes inválidos foi admitido em serviços de reabilitação física, sendo que, mesmo a despeito da maioria das seqüelas serem do estado mental, os serviços mais procurados foram os de fisioterapia. E apenas 15% dos pacientes tiveram contato com terapeutas sociais e psicólogos.
Diante desses fatos, o que os pesquisadores puderam notar foi que é comum a sobrevivência com incapacidade em pacientes que tiveram traumatismo crânio-encefálico leve, e que essas taxas são similares às encontradas nos traumatismos moderados e graves. Constataram ainda que grande parte desta população permanece inválida após um ano, visto que a grande maioria não procura serviços de recuperação.
Ao final da pesquisa, os autores chegaram à conclusão de que o número de inválidos em conseqüência de traumas crânio-encefálicos classificados como leves, é muito grande, e que a classificação desses traumas pela escala de Glasgow como leves pode ser inapropriada em muitas situações. Mas, eles acreditam que mais investigações devem ser feitas para confirmar se esses achados podem ser aplicados em outros locais e também que novos trabalhos devem ser feitos a fim de se avaliar os serviços de reabilitação para que se promova uma redução das seqüelas em todos os tipos de trauma crânio-encefálico.
domingo, 9 de setembro de 2007
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